O papel materno sempre foi muito claro e preciso. O biológico de um lado, as concepções machistas de outro lado, ajudaram nisso.
Quando um bebê nasce, a mãe biológica (com algumas exceções) já vive um papel. Aliás, estruturalmente falando, ja vivia ha 09 meses. É o biológico se impondo. Hormônios, alterações corporais, amamentação. Isso produz uma internalização, uma encarnação do papel materno por parte da mulher.
Por tradição, por subjetividade, por temperamento, por tendências majoritárias, por construção cultural (ou sei la mais o que, porque eu acho que tem mais variáveis e não é fácil entender todas elas) as mulheres já vivem a maternidade durante a gestação. Idealizam mais. Se envolvem mais com a maternagem.
O papel paterno não começa tão visceral. É social. É construído. Os homens precisam “ver para crer”. Neste caso, ver a criança.
Tudo que é socialmente construído modifica-se, melhora ou piora, altera-se, transforma-se enfim.
No passado o pai era provedor. Ele era o fiador econômico da manutenção da casa e do amor da mae pelos filhos. Uma especie de patrão que bancava o sonho de casinha da mulher. (Sem nenhum juízo moral aqui. Não to dizendo que isso era bom ou ruim.)
Com a emancipação profissional feminina, e a desconstrução dos arranjos sociais tradicionais, especialmente nas democracias ocidentais do século XX, a mulher também passa a ter poder econômico e ser ativa no mercado de trabalho. O pai não é mais o provedor, ou não é obrigatoriamente o único provedor. A paternidade entra em crise. O que é ser pai?
O que posso dizer é que as crises atuais: com lideres, políticos ou não, com o Estado, crise de referências, com judiciário e a lei, com o patriarcado e a religiosidade, são, em ultima instancia, crises com a função paterna. O que é ser pai?
Questão atual. Não me atrevo a responder de forma definitiva.
Só posso dizer que não se é pai: torna-se pai.
Se um pai não nasce pronto, uma criança não nasce já como “filho”, torna-se filho.
Um pai nasce no instante que um filho nasce; e um filho nasce quando o olhar sobre ele não é de uma “criança” (categoria genérica), mas de “um filho”, “meu filho” (característica particular).
Flávio Galdêncio
Psicólogo e conferencista
(71) 99105-7445
@flavio_gaudencio
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