Coisas que me contaram - Carlos Augusto

 

                                                                 OVO É UM VENENO

 

            Sentado certo dia em Nagé, ouvia duas comadres que conversavam sobre o lado ruim das comidas e como certas comidas eram perigosas.           

            Uma delas, muito convicta dizia que não comia e não tinha quem fizesse ela comer ovo. E comentou:

            - Quando me lembro de seu Antenor, um homem apesar da idade, forte, alegre, brincando até algumas horas antes de morrer.

            Entrei na conversa e perguntei:

            - E o que aconteceu a seu Antenor?

            - Comeu ovo, se deitou para descansar, demorou de levantar quando foram ver estava morto. Eu mesmo preparei, bem salgadinho como ele gostava.

            - Que idade tinha seu Antenor?

            - Mais de sessenta, quase setenta não era Rose?

            - Acho que se não tinha setenta, estava perto. Ele é do tempo de tia Euterpe que morreu com setenta e dois anos.

            Me interessei e puxei mais conversa. Afinal gosto muito de ovo frito ou cozido e poderia nesta conversa adquirir algum ensinamento ou precaução sobre o ovo.

            - Como tudo aconteceu?

            - Tinha acabado de tratar uma bacia de peixe, pouco mais de meio dia, ele que morava sozinho veio até minha casa bateu e pediu se poderia fritar uns ovos para ele. Respondi que sim, até hoje tenho remorso, se pudesse voltar atrás não faria aquele favor. Peguei uma frigideira grande que tenho, coloquei o óleo, bem sal como ele gostava, umas rodelas de cebola, deixei fritar um pouco e estava pronto.

            Os vizinhos sabiam e confirmavam que seu Antenor era doido por ovos, comia quase todo dia e nunca se queixou de nada.

            - Me lembro como se fosse hoje, ele pegou a frigideira com dificuldade que ainda estava quente, me agradeceu sorridente e saiu porta afora.

            Procurei finalizar a conversa afinal, as duas pareciam sofrer bastante lembrando a morte do amigo, quase um pai, viu as duas nascer.

            Então perguntei:      

            - Quantos ovos foram fritos naquela frigideira para o almoço de seu Antenor?

            - Dez, quando entramos na casa dele, a frigideira ainda estava com algumas migalhas de pão, lisa parecendo que ele usou o pão para saborear as últimas gotas de óleo bem salgadinho como ele sempre gostou.

 Tomei um susto e perguntei.

- Quantos ovos?

- Dez.

Finalizei:

- Realmente ovo é um veneno.

 

Carlos Augusto  - Servidor Aposentado