“Ajeite essa postura, colega,
você está todo torto!”
“Assim você pode ter uma hérnia de
disco.”
Quem nunca ouviu?
E agora na quarentena que não tenho
meu colega pra puxar minha orelha?
Afinal, será mesmo que há relação
da postura com a dor?
Eu gosto sempre de provocar
questionamentos aos meus pacientes e alunos, um deles é refletir se realmente
há uma postura ideal. Há muito se tem discutido na literatura sobre ergonomia e
posições em que haja uma menor sobrecarga nas articulações, músculos e tendões.
Porém, isso não é o bastante para se garantir ausência de dores e a manutenção
do posicionamento sugerido como ideal durante a jornada de trabalho e home
office.
Ficou confuso? Então vamos a um
exemplo prático. Suponhamos que você esteja na postura mais ergonômica e
correta possível segurando um copo com água. Manter esse posicionamento
aparentemente é uma tarefa muito fácil para a maioria, mas mantê-lo por um
tempo excessivamente prolongado pode se tornar um desafio e tanto. Você
perceberá que o copo fica mais pesado, o braço começará a cansar, a doer e o
corpo passará a pedir para mudar de posição.
Então, será que podemos pensar
que a postura ideal, dita ergonômica, pode não ser considerada como fator ÚNICO
para a garantia de um corpo saudável e com ausência de dor?
Vamos refletir mais um pouco.
Nós, Homo Sapiens, já fomos um dia chamados de “caçadores coletores”. Há
20 mil anos saíamos caminhando longas distancias, agachando repetidas vezes
para coletar sementes e plantas. Aproximadamente 80% de nossa alimentação era
proveniente desta dinâmica. Nesta época, provavelmente o indivíduo não teria a
opção de não realizar as atividades por conta de uma dor lombar. Primeiro
ponto: essa atividade garantia sua subsistências. Segundo: Será que os
indivíduos dessa época já sofriam de dores provenientes da postura ou de
atividades repetitivas?
E atualmente, um trabalho que exija
um grande numero de agachamentos pode desencadear dores na coluna? Acredito que
a resposta esteja fácil pra você agora.
O objetivo aqui não é investigar
se nossos antepassados de mais de 20 mil anos sofriam de patologias decorrentes da repetição e postura, mas gerar um
fator comparativo entre a mesma espécie.
O que dicotomiza desfechos
diferentes em uma mesma espécie executando a mesma atividade é a variabilidade
de tarefas. Atualmente, estamos mais expostos a enfermidades, sobretudo da
coluna vertebral, músculos e tendões, principalmente por que executamos sempre
os mesmos movimentos e nos mantemos excessivamente na mesma posição.
Diferente dos caçadores-coletores
que agachavam, corriam, ficavam de pé e sentavam alternando com frequência
estas atividades, nós nos condicionamos excessivamente à sedestação. Ficamos sentados
durante: uma jornada de trabalho que normalmente nos demanda um terço do nosso
dia; no deslocamento através dos meios de transporte; no jantar, almoço e café
da manhã; quando fazemos nossas necessidades fisiológicas; assistindo
televisão; e uma infinidade de outras atividades, que nos demandam
repetidamente a mesma posição e, principalmente, o mesmo movimento de flexão do
tronco.
Mesmo que haja um planejamento
ergonômico para as atividades laborais e pessoais, não há garantias que o
individuo esteja imune às dores do corpo. Ou seja, apenas corrigir o
posicionamento não irá resolver a questão. É necessário variar posturas e expor
nosso corpo a diferentes padrões de movimento.
Portanto, a palavra de ordem é
se MOVIMENTAR, independente de qual seja o movimento.
Mas o que posso fazer?
TUDO! Desde movimentos
executados na academia até a simples atividade de varrer a casa. O importante é
fracionar o tempo em que estamos em frente ao computador intercalando com
alongamentos e atividades que priorizem a extensão do tronco. O primordial é
evitar o mesmo posicionamento por um tempo prolongado e/ou o mesmo padrão de
movimento.
Neste período da quarentena,
que muitos estão em home office, pode ser interessante intercalar as atividades
laborais com as atividades domésticas, garantindo assim, uma diversidade de
padrões de movimentos.
Ative alertas, seja criativo!
O trabalho exige muito do nosso foco e quando percebemos já se passaram mais de
3 horas em frente ao computador. O celular pode ser um aliado, através do
despertador, executando lembretes a cada hora, para que você alterne sua atividade
e promova assim maior variação da função corporal.
Enfim, por mais que pareça
complicado na quarentena, SE MOVIMENTE, ainda que seja no seu tempo. Pois além
de prevenir e tratar as diversas dores que surgem no corpo, a atividade física
melhora a nossa disposição física e mental.
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