terça-feira, 28 de abril de 2020

Trabalho, dor e postura na quarentena


“Ajeite essa postura, colega, você está todo torto!”
          “Assim você pode ter uma hérnia de disco.”
           Quem nunca ouviu?
           E agora na quarentena que não tenho meu colega pra puxar minha orelha?
          
            Afinal, será mesmo que há relação da postura com a dor?

          Eu gosto sempre de provocar questionamentos aos meus pacientes e alunos, um deles é refletir se realmente há uma postura ideal. Há muito se tem discutido na literatura sobre ergonomia e posições em que haja uma menor sobrecarga nas articulações, músculos e tendões. Porém, isso não é o bastante para se garantir ausência de dores e a manutenção do posicionamento sugerido como ideal durante a jornada de trabalho e home office.
           Ficou confuso? Então vamos a um exemplo prático. Suponhamos que você esteja na postura mais ergonômica e correta possível segurando um copo com água. Manter esse posicionamento aparentemente é uma tarefa muito fácil para a maioria, mas mantê-lo por um tempo excessivamente prolongado pode se tornar um desafio e tanto. Você perceberá que o copo fica mais pesado, o braço começará a cansar, a doer e o corpo passará a pedir para mudar de posição.
          Então, será que podemos pensar que a postura ideal, dita ergonômica, pode não ser considerada como fator ÚNICO para a garantia de um corpo saudável e com ausência de dor?
            Vamos refletir mais um pouco.
         Nós, Homo Sapiens, já fomos um dia chamados de “caçadores coletores”. Há 20 mil anos saíamos caminhando longas distancias, agachando repetidas vezes para coletar sementes e plantas. Aproximadamente 80% de nossa alimentação era proveniente desta dinâmica. Nesta época, provavelmente o indivíduo não teria a opção de não realizar as atividades por conta de uma dor lombar. Primeiro ponto: essa atividade garantia sua subsistências. Segundo: Será que os indivíduos dessa época já sofriam de dores provenientes da postura ou de atividades repetitivas?
              E atualmente, um trabalho que exija um grande numero de agachamentos pode desencadear dores na coluna? Acredito que a resposta esteja fácil pra você agora.
             O objetivo aqui não é investigar se nossos antepassados de mais de 20 mil anos sofriam de patologias  decorrentes da repetição e postura, mas gerar um fator comparativo entre a mesma espécie.
            O que dicotomiza desfechos diferentes em uma mesma espécie executando a mesma atividade é a variabilidade de tarefas. Atualmente, estamos mais expostos a enfermidades, sobretudo da coluna vertebral, músculos e tendões, principalmente por que executamos sempre os mesmos movimentos e nos mantemos excessivamente na mesma posição.
       Diferente dos caçadores-coletores que agachavam, corriam, ficavam de pé e sentavam alternando com frequência estas atividades, nós nos condicionamos excessivamente à sedestação. Ficamos sentados durante: uma jornada de trabalho que normalmente nos demanda um terço do nosso dia; no deslocamento através dos meios de transporte; no jantar, almoço e café da manhã; quando fazemos nossas necessidades fisiológicas; assistindo televisão; e uma infinidade de outras atividades, que nos demandam repetidamente a mesma posição e, principalmente, o mesmo movimento de flexão do tronco.
          Mesmo que haja um planejamento ergonômico para as atividades laborais e pessoais, não há garantias que o individuo esteja imune às dores do corpo. Ou seja, apenas corrigir o posicionamento não irá resolver a questão. É necessário variar posturas e expor nosso corpo a diferentes padrões de movimento.
              Portanto, a palavra de ordem é se MOVIMENTAR, independente de qual seja o movimento.
              Mas o que posso fazer?
              TUDO! Desde movimentos executados na academia até a simples atividade de varrer a casa. O importante é fracionar o tempo em que estamos em frente ao computador intercalando com alongamentos e atividades que priorizem a extensão do tronco. O primordial é evitar o mesmo posicionamento por um tempo prolongado e/ou o mesmo padrão de movimento.
           Neste período da quarentena, que muitos estão em home office, pode ser interessante intercalar as atividades laborais com as atividades domésticas, garantindo assim, uma diversidade de padrões de movimentos.
           Ative alertas, seja criativo! O trabalho exige muito do nosso foco e quando percebemos já se passaram mais de 3 horas em frente ao computador. O celular pode ser um aliado, através do despertador, executando lembretes a cada hora, para que você alterne sua atividade e promova assim maior variação da função corporal.
             Enfim, por mais que pareça complicado na quarentena, SE MOVIMENTE, ainda que seja no seu tempo. Pois além de prevenir e tratar as diversas dores que surgem no corpo, a atividade física melhora a nossa disposição física e mental.


 Leonardo Arléo

Fisioterapeuta formado pela Unijorge; pós graduado em Ortopedia e Traumatologia; especialista em reabilitação visual e ortoptica; especialista em podoposturologia; formado no Método Therapy Taping; formação no Conceito Mulligan pela International Mulligan Concept Teachers Association; formado em Reeducação Postural Global; formação em Proprioceptive Neuromuscular Facilitation níveis I e II pela International Proprioceptive Neuromuscular Facilitation Association; professor de cursos de extensão e especialização em terapias manuais, reeducação postural global e pilates; coordenador técnico na Clinica Revitalize.

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Dicas dos Servidores

Após a implantação do PJE e a vigência da nova resolução que trata da prestação de contas dos partidos políticos, tenho observado a grande quantidade de equívocos nas petições iniciais, o que gera retrabalho e atraso na evolução do processo, já que o cartório deve certificar, passar a despacho e efetivar as retificações na autuação. Somente após isso é que as demais providências são tomadas, o que gera demora em alguns dias, para o desfecho.
Ultimamente cumpri vários atos de retificação de autuação, em situações que poderiam ser evitadas facilmente com disseminação de informações sobre a petição inicial da prestação de contas, notadamente a de declaração de ausência de movimentação.
A partir do momento em que a prestação de contas deixa de ser procedimento administrativo e passa a jurisdicional, formalidades mínimas quanto à petição inicial devem ser observadas, salvo melhor juízo, apesar de ser um processo atípico, sem a "triangulação" processual.
Entre os equívocos mais comuns estão:
- peticionamento perante o segundo grau de jurisdição;
- autuação em zona diversa da competente, em locais com mais de uma zona;
- classificação incorreta (PETIÇÃO CÍVEL - Regularização... X PRESTAÇÃO DE CONTAS);
- ausência dos nomes dos responsáveis - presidente e tesoureiro - e de sua qualificação;
- falta de qualquer justificativa para o fato de o partido não ter movimentação durante todo o ano ("causa de pedir"), em caso de declaração de ausência de movimentação de recursos.
Assim, elaborei um formulário modelo de petição, que poderá servir de orientação para aqueles que tenham dúvida, conforme link abaixo, com a redação a ser adaptada e melhorada.
Submeto à avaliação de conveniência quanto à divulgação no Blog:


Atenciosamente,
João Evódio Silva Cesário
Analista Judiciário | ZE-048