AURORA
NO CREPÚSCULO
Conta-se que num
certo dia de sábado e por sua irresistível mania de dormir, chegou a beira da
agressão física a sua esposa e a uma prima que morava em sua casa e por muito
pouco não chegou a separação, destruindo em alguns segundos muitos anos de
convivência harmoniosa.
Estava Aristides a
dormir quando foi acordado bruscamente por um barulho vindo da cozinha, causado
por uma panela de alumínio, escapada das mãos de sua prima. Trêmulo e ainda sob
o efeito do susto percebeu a falta de luz solar e curiosamente olhou para seu
relógio de cabeceira que marcava 5:59h. Parou por alguns instantes, ficou a
observar e constatou movimentos e sons, característicos de trabalhos
domésticos, além das animadas conversas das duas mulheres. Silencioso, ruminou
em suas entranhas um ódio incontrolável daquelas pessoas insensatas, que não
respeitavam o descanso alheio, numa hora daquelas fazendo tanto barulho a ponto
de lhe deixar em estado de choque. Descansou um pouco e refeito do susto, o
preguiçoso pulou para o chão, correu até a cozinha passando a agredir com
brados e xingamentos, aumentando mais ainda seu furor e sua ira, quando a prima
sem nada entender perguntou:
- O que este maluco
quer?
Ofendido, partiu para
cima da prima sendo contido pela esposa que foi empurrada e com o impacto
derrubou a panela de feijão que estava fervendo no fogão, queimando o braço e
salpicando nas pernas. A cozinha virou um pandemônio, choros, gritos, era a
verdadeira Torre de Babel, ninguém se entendia. Neste instante, do rádio que
estava ligado na sala e aumentava mais a confusão, soou a música comovente da
“Ave Maria”. Como um sedativo de efeito imediato Aristides parou, olhou ao seu
redor e não acreditou no que via, meio embaraçado tentava explicar, até mesmo
de maneira humilhante, para as duas mulheres o que havia acontecido:
Descontrolado pelo susto, envolvido pela penumbra e em sua leseira doentia,
julgou ser 5:59h da manhã.
Meu nome é Carlos Augusto, trabalhei doze anos no TRE ainda na Vasco da Gama sua antiga sede, me aposentei e de lá pra cá me dediquei a minha esposa, três filhos e quatro netos, nas horas vagas que são poucas, escrevo algumas coisas que apesar de curiosas são baseadas em fatos reais.
Muito divertido esse "causo"!! Você é um excelente escritor, parabéns!
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